Na última semana, a cultura popular do litoral do Paraná se despediu de uma pessoa importante, especialmente para os devotos do Divino Espírito Santo e da festa que o celebra, manifestação religiosa que envolve práticas e representações de significado importantíssimo para a vida das pessoas do litoral paranaense, em particular, pelas famílias de pescadores que residem em todo o litoral, não deixando de fora as outras pessoas que partilham da mesma fé e da mesma celebração ao divino.
Falo de João Alves (ou João Buza), conhecido entre os fiéis do Divino, conhecido entre as ilhas, conhecido na cidade de Paranaguá, um símbolo da cultura popular, refletia o significado da fé católica no litoral, além de ser um "contador de estórias de pescador", possuia um saber muito rico sobre seu mundo, um saber popular, diferente da "gente da cidade". Isso não significa que era menos que "nós". Se engana quem pensa que ele era um"pobre e velho pescador", João Alves levou seu conhecimento para muitas pessoas, durante anos se dedicou a sua fé, mesmo não sendo um "homem de letras", leu e interpretou a bíblia diversas vezes, desenvolveu sua leitura, atribuiu significados ao que acreditava, levou a fé católica durante anos para os lugares distantes da "cidade". Atualmente era o último Capelão vivo, durante a Festa do Divino Espírito Santo era o responsável pelo Terço Cantado.
A tradição oral que permeia todas essas práticas possui um valor inestimável, o significado de anos de dedicação ao seu cotidiano fica para a memória. A sua vida, vida "simples", não possuía uma riqueza material aos moldes atuais, uma riqueza que é alvo de ambição, onde só se almeja ficar rico, com uma grande soma em dinheiro.
Sim, João Alves não possuía essa riqueza, não possuía nada aos olhos dessa "gente da cidade", preocupada com o tempo, preocupada em consumir. Sua riqueza era outra, uma riqueza que ainda está lá, dentro de seu universo cultural, dentro das relações entre pescadores, entre homens e o Divino, entre homens e a natureza. João Alves não entrou para a história, ele já estava nela há muito tempo.
Para a História, como disciplina, a trajetória de João Alves tem muito a dizer, tem sua voz a ser ouvida, representa as pessoas comuns, ou melhor, as classes populares, pensando com Carlo Ginzburg (historiador italiano). Como sendo uma pessoa comum, onde, como a maioria da população, não partilha "dos segredos do Estado, da Política", não teve sua morte lembrada em nossa cidade, sabemos que é assim, como se falou na caminhada em seu funeral por amigos e familiares, "se fosse um 'grandão' que tivesse morrido não seria assim".
No entanto, podemos fazer com que sua vida e tudo que representou para as pessoas que o conheceram, tenha sentido para a história dos pescadores, para a história do Divino no litoral, para nós, podemos dar vida ao que João Alves deixou.
Falo de João Alves (ou João Buza), conhecido entre os fiéis do Divino, conhecido entre as ilhas, conhecido na cidade de Paranaguá, um símbolo da cultura popular, refletia o significado da fé católica no litoral, além de ser um "contador de estórias de pescador", possuia um saber muito rico sobre seu mundo, um saber popular, diferente da "gente da cidade". Isso não significa que era menos que "nós". Se engana quem pensa que ele era um"pobre e velho pescador", João Alves levou seu conhecimento para muitas pessoas, durante anos se dedicou a sua fé, mesmo não sendo um "homem de letras", leu e interpretou a bíblia diversas vezes, desenvolveu sua leitura, atribuiu significados ao que acreditava, levou a fé católica durante anos para os lugares distantes da "cidade". Atualmente era o último Capelão vivo, durante a Festa do Divino Espírito Santo era o responsável pelo Terço Cantado.
A tradição oral que permeia todas essas práticas possui um valor inestimável, o significado de anos de dedicação ao seu cotidiano fica para a memória. A sua vida, vida "simples", não possuía uma riqueza material aos moldes atuais, uma riqueza que é alvo de ambição, onde só se almeja ficar rico, com uma grande soma em dinheiro.
Sim, João Alves não possuía essa riqueza, não possuía nada aos olhos dessa "gente da cidade", preocupada com o tempo, preocupada em consumir. Sua riqueza era outra, uma riqueza que ainda está lá, dentro de seu universo cultural, dentro das relações entre pescadores, entre homens e o Divino, entre homens e a natureza. João Alves não entrou para a história, ele já estava nela há muito tempo.
Para a História, como disciplina, a trajetória de João Alves tem muito a dizer, tem sua voz a ser ouvida, representa as pessoas comuns, ou melhor, as classes populares, pensando com Carlo Ginzburg (historiador italiano). Como sendo uma pessoa comum, onde, como a maioria da população, não partilha "dos segredos do Estado, da Política", não teve sua morte lembrada em nossa cidade, sabemos que é assim, como se falou na caminhada em seu funeral por amigos e familiares, "se fosse um 'grandão' que tivesse morrido não seria assim".
No entanto, podemos fazer com que sua vida e tudo que representou para as pessoas que o conheceram, tenha sentido para a história dos pescadores, para a história do Divino no litoral, para nós, podemos dar vida ao que João Alves deixou.
Sim! Morreu um "grandão"!
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