sábado, 2 de julho de 2011

Entre a vida e a memória: O Capelão João Alves

Na última semana, a cultura popular do litoral do Paraná se despediu de uma pessoa importante, especialmente para os devotos do Divino Espírito Santo e da festa que o celebra, manifestação religiosa que envolve práticas e representações de significado importantíssimo para a vida das pessoas do litoral paranaense, em particular, pelas famílias de pescadores que residem em todo o litoral, não deixando de fora as outras pessoas que partilham da mesma fé e da mesma celebração ao divino.

Falo de João Alves (ou João Buza), conhecido entre os fiéis do Divino, conhecido entre as ilhas, conhecido na cidade de Paranaguá, um símbolo da cultura popular, refletia o significado da fé católica no litoral, além de ser um "contador de estórias de pescador", possuia um saber muito rico sobre seu mundo, um saber popular, diferente da "gente da cidade". Isso não significa que era menos que "nós". Se engana quem pensa que ele era um"pobre e velho pescador", João Alves levou seu conhecimento para muitas pessoas, durante anos se dedicou a sua fé, mesmo não sendo um "homem de letras", leu e interpretou a bíblia diversas vezes, desenvolveu sua leitura, atribuiu significados ao que acreditava, levou a fé católica durante anos para os lugares distantes da "cidade". Atualmente era o último Capelão vivo, durante a Festa do Divino Espírito Santo era o responsável pelo Terço Cantado.

A tradição oral que permeia todas essas práticas possui um valor inestimável, o significado de anos de dedicação ao seu cotidiano fica para a memória. A sua vida, vida "simples", não possuía uma riqueza material aos moldes atuais, uma riqueza que é alvo de ambição, onde só se almeja ficar rico, com uma grande soma em dinheiro.
Sim, João Alves não possuía essa riqueza, não possuía nada aos olhos dessa "gente da cidade", preocupada com o tempo, preocupada em consumir. Sua riqueza era outra, uma riqueza que ainda está lá, dentro de seu universo cultural, dentro das relações entre pescadores, entre homens e o Divino, entre homens e a natureza. João Alves não entrou para a história, ele já estava nela há muito tempo.

Para a História, como disciplina, a trajetória de João Alves tem muito a dizer, tem sua voz a ser ouvida, representa as pessoas comuns, ou melhor, as classes populares, pensando com Carlo Ginzburg (historiador italiano). Como sendo uma pessoa comum, onde, como a maioria da população, não partilha "dos segredos do Estado, da Política", não teve sua morte lembrada em nossa cidade, sabemos que é assim, como se falou na caminhada em seu funeral por amigos e familiares, "se fosse um 'grandão' que tivesse morrido não seria assim".
No entanto, podemos fazer com que sua vida e tudo que representou para as pessoas que o conheceram, tenha sentido para a história dos pescadores, para a história do Divino no litoral, para nós, podemos dar vida ao que João Alves deixou.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Projeto Etnofotocaiçara realiza exposição na II Festa do Divino Espírito Santo



Música e devoção da “alvorada” à “despedida”:


Associação Mandicuera realiza II Festa do Divino Espírito Santo na Ilha dos Valadares


O ar frio da madrugada ainda toma conta do lugar, mas como reza a tradição, devotos e foliões do Divino Espírito Santo já estão de pé, preparando-se para mais uma romaria. São seis horas da manhã e a “Alvorada” marca o início da peregrinação que há tempos imemoriais enche os olhos e a alma das comunidades caiçaras do litoral paranaense.
Neste cenário, a folia comandada por integrantes da Associação Mandicuera (www.mandicuera.com.br), vem percorrendo ilhas e localidades da baía de Paranaguá e Guaraqueçaba, levando a bandeira e a fé no Divino Espírito Santo. Retomada no final dos anos 90, através da memória de foliões antigos e também de intensa pesquisa realizada por integrantes da associação, especialmente Aorélio Domingues e Eloir Paulo Ribeiro de Jesus, esta bandeira comemora no próximo final de semana a história que vem sendo construída ao longo destes anos.




Inauguração do Museu Capela
Nos dias 10, 11 e 12 junho, será realizada na sede da Associação Mandicuera a II Festa do Divino Espírito Santo da Ilha do Valadares, que, entre outras ações, irá inaugurar o Museu Capela do Divino Espírito Santo, construído com ofertas de devotos do Espírito Santo e da Santíssima Trindade e também com recursos do Prêmio Culturas Populares premiação do Ministério da Cultura – Edital Dona Isabel. A capela, construída no estilo das pequenas igrejas das comunidades litorâneas, reúne objetos, fotos, fitas, bandeiras, cartas, pedidos e tudo o que se refere à romaria à devoção do povo caiçara. 



O espaço será administrado pelo mestre folião da Bandeira e da Folia do Divino, não tendo vínculo administrativo ou patrimonial com a igreja ou paróquia, constituindo-se como espaço de expressão da fé e da religiosidade popular. Além de expressões de devoção ao Divino, a capela também poderá receber atividades culturais como exibições de filmes, palestras e debates relacionados à temática.  
 Exposições, exibições de vídeos e futebol
Toda as cores e sons da cultura caiçara também poderão ser apreciados por aqueles que participarem da programação da Festa do Divino Espírito Santo, que além de manifestações da fé no catolicismo popular, trará toda a diversidade contida neste universo. A festa, que abre com o almoço caiçara, terá rodada de viola caiçara, boi-de-mamão, oficina de dança alentejanas, exposições fotográficas, exibições de vídeo documentários, fandango, bingo e torneio de futebol.
Durante os três dias de festa, foliões, pesquisadores e interessados na cultura popular poderão acompanhar diferentes momentos da Folia do Divino Espírito Santo: como a “alvorada”, o beijamento das bandeiras” e a procissão que seguirá até a Igreja Nossa Senhora dos Navegantes. Haverá ainda a realização do Terço Cantado, comandado pelo capelão João Alves.  
Entre os vídeos e documentários apresentados estarão “DIVINO, folia, festa, tradição e fé no litoral do Paraná” de Lia March e Maurício Osaki e as produções audiovisuais do Ponto de Cultura Casa Mandicuera, capitenadas por Mariana Zanette e Aorélio Domingues. Lia Marchi, ao lado do professor português Domingos Morais também apresentará o Caderno de Danças Alentejanas (Vol. 1), lançado pela Olaria Cultural (www.olariacultural.com.br) e coordenará a Oficina de Danças Alentejanas. Sérgio Silvestri também irá  expor fotos de sua autoria.
Etnofotocaiçara
A Festa do Divino Espírito Santo irá comemorar também as parcerias realizadas com o Ponto de Cultura Casa Mandicuera, entre elas a do projeto Etnofotocaiçara (www.etnofotocaicara.blogspot.com.br), coordenado pelo fotógrafo e documentarista Flávio Rocha.
O projeto foi realizado entre os meses de fevereiro e abril, em diferentes localidades do município de Paranaguá.  Viabilizado pela Fundação Nacional de Artes (Funarte), por  meio do edital Residências Artística em Pontos de Cultura com a parceria do Ponto de Cultura Casa Mandicuera, realizou oficinas de Fotografia e Produção de texto e Etnografia, oferecidas para jovens da comunidade parnanguara.
Partindo da Ilha dos Valadares, os integrantes do projeto percorreram a baía de Paranaguá entre três comunidades pesqueiras que se encontram na região confrontando olhares entre o rural e urbano, a tradição e a modernidade, fronteiras híbridas destacadas através dos registros fotográficos e de impressões textuais.  
 A exposição do projeto, com imagens da Ilha dos Valadares, Ilha do Amparo, Piaçaguera e Ilha de São Miguel (também conhecida como Saco do Tambarutaca) tem sua abertura programada para o dia 10 de junho, as 16h30.

Parcerias e confraternização
A II Festa do Divino Espírito Santo na Ilha dos Valadares celebrará a fé e a alegria da religiosidade e a cultura popular caiçara, contando com a colaboração de diferentes parceiros, mas principalmente, com os devotos do Divino Espírito Santo e Santíssima Trindade. A programação terá início ao meio-dia de sexta-feira, dia 10 de junho, e será encerrada às 19 horas do domingo, dia 12 de junho. 

Serviço:
O quê: II Festa do Divino Espírito Santo na Ilha do Valadares
Quando: 10, 11 e 12 de junho
Onde: Sede da Associação de Cultura Popular Mandicuera (Ilha dos Valadares/Paranaguá)
Informações: XX 41 3425-5275 ou associacaomandicuera@yahoo.com.br ou www.mandicuera.com.br


segunda-feira, 11 de abril de 2011

EXERCÍCIOS ETNOGRÁFICOS Ensaios de novos olhares

Certa de que o olhar em perspectivas mais etnográficas só pode ser apreendido por meio da prática de campo, a  equipe do Projeto Etnofotocaiçara, acredita  que a proposta de exercícios da escrita e da fotografia é essencial à formação destes jovens e adultos, moradores do litoral paranaense.
Esclarecemos, no entanto, que e a ideia de formação oferecida pelo projeto pretende apenas oferecer informações básicas e orientações sobre a prática antropológica.
Assim, os textos são postados pelos alunos de forma livre.
Todos têm caráter de ensaio, sendo baseados em breves visitas de campo às Ilha do Valadares, Ilha do Amparo,  Piçaguera e Ilha de São Miguel (também conhecida como Saco do Tambarutaca).

Esperamos que a visita ao blog e, mais especificamente à página de Exercícios Etnográficos, ofereça ao leitor diferentes olhares sobre a cultura caiçara.

terça-feira, 5 de abril de 2011

A influência da indústria cultural nas crianças de Amparo


por Juliane Neves


Das comunidades pesqueiras da baía de Paranaguá a comunidade de Amparo está situada de frente ao Porto, das imediações do bairro do Rocio é possível avistar o local, mas estando em Amparo o ponto de vista é bem diferente e apesar se ser um local muito próximo ao continente é pouco conhecido pelos parnanguaras. Para quem mora ali creio ser comum a vista diária de navios, rebocadores e guindastes, tornando evidente o contraste entre o cotidiano da pesca artesanal com os frutos da revolução industrial.



Esse contraste entre o tradicional e o moderno reflete também nas relações sociais e no próprio comportamento das pessoas, ressaltando aqui a questão da infância no ambiente rural e urbano. Nas cidades as crianças desde a mais tenra idade são condicionadas a desejarem brinquedos, roupas e calçados que estampem o que atualmente é mostrado na mídia e algumas crianças acabam extrapolando o limite da necessidade e o conceito do que realmente é necessário e o que é desejo de consumo, tamanha a influência da mídia. Nas últimas décadas a infância na cidade mudou drasticamente, pois o mundo mudou, os sistemas economicos mudaram e com o neoliberalismo e a busca incessante pelo lucro, todos os extratos sociais independente de faixa- etária foram alterados, seja para o bem ou para o mal dependendo do ponto de vista de cada um. São raras as crianças da cidade que conhecem brincadeiras como pular corda, amarelinha, esconde-esconde, jogar bolinha de gude e soltar pipa, sendo muito comum crescerem em frente a televisão, o computador e o vídeo-game. Nas comunidades pesqueiras a infância não é tão influenciada pelas tecnologias como na cidade, sendo ainda possível notar a presença de uma infância mais leve, mais natural, onde as brincadeiras surgem da criatividade em meio as paisagens do seu cotidiano.


Ao mesmo tempo em que essas crianças preservam em si o encanto da verdadeira infância sendo determinada pelo meio no qual vivem, em campo ficou claro que elas são influenciadas pela indústria cultural no sentido da cultura massificada.




Ao conviver mesmo que por pouco tempo com as crianças de Amparo, muitas delas revelaram espontaneamente a forte influência da indústria cultural, seja nos comentários sobre a novela, seja nas músicas que cantavam – que iam desde o “sucesso” nacional Rebolation à músicas norte americanas, das quais mostraram um maior apreço. Aqui podemos notar a invasão cultural norte americana e consequentemente a desvalorização da sua própria cultura e crendo na superioridade do invasor cultural, como cita Paulo Freire em sua obra Pedagogia do Oprimido: “A base do processo de invasão cultural é a crença por parte dos invadidos de sua inferioridade intrínseca, ao mesmo tempo em que acreditam na superioridade do invasor, nascendo então o desejo de se parecerem com ele, andando, vestindo-se e, falando à sua maneira.”

Tirando a cultura da pesca que está relacionada com o sustento e a economia local, hoje é muito raro ver os pais e/ou avós transmitindo os saberes relacionados a manifestações culturais para as crianças, como o Fandango por exemplo. Sendo que o Fandango sempre esteve associado a identidade cultural dessas comunidades.

Atualmente pontos de cultura como o Mandicuera se engajou na causa de manter a cultura local, tendo como público-alvo crianças e adolescentes que infelizmente são os mais influenciados pela indústria cultural, mas que, uma vez conhecendo a sua identidade cultural serão os transmissores da cultura local.



sábado, 2 de abril de 2011

O banho!


por Marco Antonio Sordo Carlim

  É para "matar" o calor e "lavar" a alma, se desapegar dos problemas do ano que passou e se preparar com alegria para os novos desafios que surgem com o começo de mais um ano, afinal como diz o ditado: "O ano só começa depois do carnaval".

  Neste ano, a tradição chegou a marca de 62 anos de banho a fantasia, evento este que antecede o carnaval parnanguara. Um encontro popular, a luz do dia, onde muitos homens "trocam de papel" e se vestem como mulheres, algumas mulheres se vestem com roupas masculinas e também tem quem participa somente observando.

   Parece só isso, mas olhando com mais atenção e conversando com alguns "foliões", podemos chegar a uma outra conclusão. O banho pode ser visto como um resumo da sociedade, uma sociedade que não é perfeita, até porque a perfeição é relativa e um tanto quanto utópica. 

  Olhando desta forma, podemos ver que muitos vão atrás  dos blocos da mesma forma que seguem os modismos passageiros. Se escondem em fantasias e poses, preferindo a ficção em detrimento da realidade. 


  Para Gustave Le Bon: "Sejam quais forem os indivíduos que compõem um grupo, por semelhantes ou não que sejam seus modos de vida, suas ocupações, seu caráter ou sua inteligência, o fato de haverem sido transformados num grupo, coloca-os na posse de uma espécie de mente coletiva que os fazem sentir, pensar e agir de maneira muito diferente daquela pela qual cada membro dele, tomado individualmente, sentiria, pensaria e agiria, caso se encontrasse em estado de isolamento".



  Uma batalha por aceitação, feita de exibicionismo individual, mascarada em um momento de euforia coletiva. 


  Mas segundo um outro ditado: "nem tudo esta perdido", podemos ver também "fantasias" que demonstram um olhar crítico e que tratam de temas políticos ou marcantes, seja do cenário municipal, estadual, federal ou até mesmo mundial.



Banho à Fantasia: Diversão e Reflexão no mesmo ritmo

por Juliane Neves


Há sessenta e dois anos a cidade de Paranaguá celebra o popular e tradicional Banho à Fantasia, que sempre ocorre no domingo que antecede a semana de Carnaval. Por ser uma festa realizada durante o dia, são raros os registros de desordem, possibilitando que toda a família participe, todas as gerações cantam e dançam as mesmas músicas.

A cada ano os foliões nos surpreendem com a criatividade de suas fantasias, se caracterizando de mulheres e nos divertindo com seus figurinos.

Há também os mais engajados nas causas sociais, tanto local como nacional. Esse ano, por exemplo, havia um festeiro de peruca, essas típicas de Carnaval e com um cartaz no peito contendo as seguintes palavras: “Roque cadê o Tutóia?”. Uma boa reflexão sobre os rumos da política em Paranaguá, pois uma obra que fora construída no governo anterior, atualmente se encontra em ruínas. Outro já fazia uma sátira a uma banda onde a aparência dos integrantes acaba tendo mais importância do que o próprio conteúdo das letras.

Em Paranaguá o Banho à Fantasia inicia o Carnaval, que pelas ruas históricas da cidade fazem com que as pessoas entrem no clima da festa. Mas junto com a diversão também contém a reflexão e ambas desfilam no mesmo ritmo.


sexta-feira, 1 de abril de 2011

Pensar a Ilha dos Valadares

De acordo com Evans Pritchard, não se pode obter respostas acerca do modo como vive uma sociedade, sem antes refletir sobre as perguntas que irão conduzir esse caminho de pesquisa. Nesse sentido, o autor coloca que um ponto importante é o de se absorver de conhecimento teórico, um treinamento rigoroso para então adentrar ao campo de pesquisa.

Assim, neste pequeno exercício etnográfico, se tomou como ponto de partida a leitura de um texto de Bronislaw Malinowski acerca de rituais e encantamentos realizados pelo povo trobriandês. O método deste exercício foi pautado em observação do meio social, com escrita acerca do cotidiano, complementado com o uso de fotografias.

Desta forma, coloca-se a questão de compreender alguns pontos do objeto de estudo, sendo este a população da Ilha dos Valadares no percurso entre o Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade Federal do Paraná à Associação de Cultura Popular Mandicuera. Os pontos a serem compreendidos foram, que tipo de relação social a população da ilha mantém com o restante da cidade e quais são as suas crenças em relação à religiosidade popular.

Nesse sentido, o conhecimento prévio acerca da ilha e dos habitantes desta pode fornecer alguns indícios de como é o convívio destes com o restante da cidade de Paranaguá, tomando o cuidado de não tratar esta parcela da sociedade como estranhos à cultura urbana, uma vez que participam do ciclo da sociedade.

Logo, Pritchard destaca que “o que se traz de um estudo de campo depende muito do que se leva para ele” (p. 300), portanto, o conhecimento adquirido antes de entrar na pesquisa de campo pode revelar intencionalidades de estudo sobre determinada sociedade.

Diante disso, logo que se percorre com o início da ponte da Ilha dos Valadares, da parte do continente da cidade de Paranaguá, se percebe um grande fluxo de bicicletas e pessoas aos redores do acesso a ponte e um grande número de pontos comerciais, especificamente bares, onde as pessoas fazem paradas para se relacionar entre si.

De imediato nosso pequeno grupo é percebido como “estranho”, pois há uma característica comum por haver o uso de camisetas com a mesma estampa do projeto Etno-Foto-Caiçara, bem como o uso de câmeras fotográficas e de cadernos de anotações, isso causa um estranhamento e Pritchard destaca esse ponto, argumentando que um caderno pode atrapalhar o convívio com outras culturas e o contato com estas (p. 305).

Continuando a observação, nos aproximamos de um senhor. Uma análise prévia nos revela que é um vendedor, assim, perguntamos seu nome e há quanto tempo faz suas vendas no local. Seu nome é José e, de acordo com sua resposta, faz isso há 30 anos, estando há 4 na ponte, vendendo objetos pequenos (pilhas, eletrônicos, guarda-chuva, controle remoto).

Próxima a ponte, há uma praça onde pessoas constantemente se encontram para conversar, sentar em bancos, fazendo parte de um cotidiano comum entre as pessoas que passam por ali todos os dias, nesse espaço de sociabilidade nota-se um grande fluxo de trocas econômicas e culturais, pois há um conjunto de pontos comerciais, onde essas mesmas pessoas movimentam a economia local. A presença de turistas também é constante, nós mesmos fomos confundidos como tais.

Nesse local avistamos algumas senhoras vendendo produtos artesanais, grande parte da ilha parece fazer da mesma atividade, pois notamos um número grande de pessoas que realizam tal tarefa, isso pode refletir uma certa dificuldade em conseguir emprego em setores que demandam uma formação específica e técnica. É também fácil de perceber que muitos homens da localidade são pescadores, possuindo seus próprios barcos, isso reflete um modo de vida que se choca com as profissões atuais, onde as pessoas precisam nutrir seus corpos de atributos, se tornando objetos, mercadorias vendáveis. Zygmunt Bauman coloca esse fator como a comodificação dos indivíduos.

Com efeito, temos na ilha situações que se chocam e que se complementam, ao mesmo tempo que se distanciam umas das outras, pois o mundo atual, baseado em um sistema capitalista, hoje uma sociedade de consumidores, bate de frente com esse mundo que parece andar lentamente, mas que sente as mudanças da economia, se transformando de uma ilha com muita vegetação, em um emaranhado de concreto.

Percorrendo ainda o mesmo trecho, vemos que a Igreja Católica possui a sua imponência ao lado da praça, onde é vista facilmente por todos, mesmo estando fora da ilha se consegue ver a igreja. Nesse aspecto, observamos que a ilha possui uma imensidão de igrejas protestantes, a influência da religião é forte, nas casas se consegue notar bíblias abertas, quadros fazendo referência à imagens religiosas. Isso é possível de perceber devido a distância muito próxima das casas com as ruas, muitas casas sem muro.

Assim, Pritchard coloca uma questão de que, se deve estudar o que a sociedade mais manifesta, ou seja, o que se encontra nessa sociedade (p. 300), partindo das incidências dessas particularidades, esses indícios que mostram o quanto a ilha é religiosa significa que isso pode revelar um sistema de relações sociais, partindo das práticas religiosas entre pessoas, e de pessoas com seus mitos religiosos, dado a ser ponderado e analisado.

Saindo do perímetro da praça e da igreja, encontramos uma rua interditada, pelas condições da rua, vimos que se tratava de um protesto, mais a frente estava uma faixa pedindo uma atenção da prefeitura da cidade com relação ao estado da rua, uma vez que está sem concreto e com muita lama. No mesmo ambiente escutamos um som de cavaquinho, um senhor chamado Ademir, com vinte anos de estudo do instrumento, tocava em companhia de uma moça, provavelmente sua parente, mais nova, aparenta ter menos de vinte anos e também toca o instrumento, ambos tocavam, construindo uma melodia que dava para se ouvir alguns metros dali.

Com relação aos comentários de Pritchard, em analisar os sentimentos de um povo, conseguimos acesso a um pequeno galpão, ou algo assim, identificado como “Casa do Fandango”, lá dentro havia muitas mulheres organizando as fantasias da escola de samba “União da Ilha”, nossa fotógrafa registrou várias fotos durante o percurso, aqui ela conseguiu tirar fotos, num primeiro momento houve uma proibição por parte de uma das responsáveis pela escola de samba, provavelmente para evitar plágios de fantasias. No momento em que se ficou sabendo que fazemos parte de um projeto de estudo, o acesso para tirar fotos foi liberado.

Nesse contexto, a diretora da escola, Janete, mencionou que a Igreja faz vistas grossas com relação à representações de sinais religiosos nessa manifestação popular, pois comenta que o padre da Igreja Católica localizada na praça da ilha, proibiu a representação de um crucifixo no que era pra ser uma imagem da Igreja do Rocio. Historicamente vemos que a Igreja Católica se incomoda com manifestações religiosas populares, um exemplo é a romaria do Divino Espírito Santo, o padre não participa dessa romaria e proíbe o culto a bandeira do Divino. Isso tende a mostrar o poder da Igreja, apenas essa instituição mantém o poder do discurso da religião católica.

Um pouco mais atrás, entre os séculos XVI e XVII, Carlo Ginzburg mostra na obra Os Andarilhos do Bem, como a Igreja Católica distorceu dentro da cultura popular, a imagem e o significado de cultos agrários, voltados para a busca de campos férteis para a colheita, se transformando em cultos satânicos, rituais de orgias onde as pessoas praticantes desses cultos, se encontrariam com o diabo. Por desenvolverem crenças religiosas, mesmo fundamentadas no catolicismo, a Igreja se incomodou por muitas pessoas estarem procurando esse tipo de manifestação do que o proposto por ela. Então a proibição e perseguição desses cultos pela Inquisição, coloca Ginzburg, foi um dos fatores de distorção do significado primário dos cultos agrários.

Diante disso, nessas particularidades, colocamos que há uma preocupação por parte da Igreja Católica em relação ao grau de tais atividades populares, uma vez que estas fujam da ordem religiosa, o discurso católico de coerção entra em funcionamento e busca estabilizar a ordem novamente.

Referências:

BAUMAN, Zygmunt. Vida para Consumo: A Transformação das Pessoas em Mercadoria. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2008.

GINZBURG, Carlo. Os Andarilhos do Bem: Feitiçarias e Cultos Agrários nos Séculos XVI e XVII. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.

Entre confetes e serpentinas: Uma leitura do banho a Fantasia em Paranaguá enquanto um espaço de relações coletivas.


Antes de chegarmos ao local de encontro do banho a fantasia, pela cidade já se vêem dispersos vários indivíduos fantasiados. Chegando a Praça do Guincho, local de encontro dos blocos, o que mais chama a atenção são as pessoas reunidas como se estivessem prontas a fazer um ritual. Chegando mais próximo, observa-se a concentração, de adultos, crianças e idosos, ansiosos para que o evento comece. Não demora muito, os blocos começam a tocar.

Como fator quase que imperceptível ou perceptível , a impressão que se tem é que nesse acontecimento que antecede o carnaval, é que existe uma relação coletiva por parte das pessoas que comemoram o banho a fantasia. Esta percepção de coletividade pode ser vista através dos homens que travestidos de mulheres brincam e dançam juntos.

Pessoas que dançam juntas atrás de um bloco, em que um carro toca música alta, seja por afinidade da música que toca, ou simplesmente por acompanhar o bloco. Esta relação coletiva pode também ser observada, nas famílias que vêm para festejar o banho, seja no parceiro do lado que junto bebe, seja no desconhecido que pula ao lado. Essa coletividade vista no banho a fantasia, pode ser contraposta ao individualismo cotidiano, das semanas em que na correria do tempo para o trabalho, pouco se vê tantas pessoas juntas comemorando.

Porém é importante ressaltar que mais que espaço de festa, o banho também pode ser local de crítica e de manifestação. Observa-se este fator nas fantasias que apontam sobre a condição de um ponto turístico da cidade que foi abandonado “De Tutóia, a Tutonóia”, ou a crítica a um estilo musical.

Enfim numa visão particular se pode analisar o banho a fantasia enquanto um espaço em que podem ser observadas relações coletivas, como comenta VIEIRA (2006) em seu artigo “Paisagem e Imaginário: Contribuições Teóricas Para uma História Cultural do Olhar” o espaço é tanto uma realidade exterior quanto uma representação. E a representação pode ser vista como uma construção de visão de mundo.

Referências

VIEIRA, L.D. Paisagem e imaginário: contribuições teóricas para uma história cultural do olhar. REVISTA FENIX- Revista de História e Estudos Culturais, julho/, 2006. V.3. Disponível em: www.revistafenix.pro.br. Acesso: jul, 2010

O Isolamento, o Sossego e a Pesca em Amparo


por Gustavo Salgado

Amparo fica a 4,5 km de Paranaguá, tendo seu acesso marítimo. Com uma beleza natural única, é habitada por famílias com associações, tem posto de saúde, igreja, uma cozinha comunitária e escola de 1ª a 4ª série. A fonte de renda das pessoas é proveniente da pesca de camarão e outras espécies de pescados. Entre seus atrativos estão: o sambaqui, o rio das ostras, canoas, tarrafas, e o artesanato que gera produtos que contribuem com a renda familiar dos moradores. 

O Trapiche que nos conduz a Comunidade Pesqueira”

Logo na chegada, as crianças brincavam, correndo de um lado para o outro (encontrei várias ao decorrer da ilha) , e vi outras desafiando umas as outras a “pular” do trapiche. O isolamento, o sossego e a pesca são caracteristicas marcantes desse paraíso caiçara.
 
Ao caminhar pela ilha, conversei com um senhor sentado em uma cadeira de rodas em frente a sua casa, que se chamava Irineu, arrumador aposentado, que nos forneceu informações de que antigamente na ilha o fandango tinha forte presença, com o bailado: “As pessoas passavam a noite inteira batendo”, enfatizou; demonstrando a necessidade do turismo e manifestações culturais. E logo em seguida fotografei sua tímida "afilhada".
 Nilo Gonçalves do Rosário, que tem sua casa/lanchonete em Amparo há 20 anos, comenta: “todos os moradores da ilha se conhecem” e “as casas mais próximas são de tios, e outros parentes”. Assim, a construção dessa comunidade acontece, onde o quintal da casa dele se mistura com o dos vizinhos, entrelaçando árvores, com portas abertas, pois segundo ele, “Aqui não precisa de polícia, só quando tem festa”, explicou. 

A relação entre sociedade e natureza”
Arivaldo, 47 anos, pescador nascido em Amparo, aprendeu com o pai a “arte” de pescar diz: “Eu saía cedo com o meu pai para pescar”, “Esperava a hora da maré...”. Sem estudo, não consegue trabalho formalizado, não desejando que o filho tenha o mesmo destino “Não quero que meu filho seja pescador”. sendo que para estudar da 5ª a 8ª série, os moradores da ilha se deslocam até Piaçaguera de barco).
O geógrafo Milton Santos em seu livro interdisciplinar A Natureza do Espaço explica que: “A história das chamadas relações entre sociedade e natureza é, em todos os lugares habitados,a da substituição de um meio natural, dado a uma determinada sociedade, por meio cada vez mais artificializado, isto é, sucessivamente instrumentalizado por essa mesma sociedade”.
O pescador acredita que quando foi inserido o motor na pesca “Aproximadamente 24 anos atras”, tudo mudou. Essa “evolução”, juntamente com o aumento de população e aumento de pescadores, só dificulta a situação do próprio pescador. E relembra o incidente Vicunha :“Ficamos sem pescar por 4 ou 5 meses”, literalmente naquele momento ele se encontrou sem peixe, comida, trabalho e sem dinheiro.
Em seu último comentário, é o próprio impacto ambiental que o Porto de Paranaguá, situado logo a frente, o assunto que o faz pensar sobre a situação atual: “Pouco a pouco, a poluição está matando os peixes”. A confirmação disso foi quando avistei alguns urubus na encosta da ilha. Mas isso não o faz desistir de pescar, pelo contrário, no momento em que conversei com ele, em nenhum momento ele largou a agulha e a rede da qual estava costurando. 

Ameaçada Vida Caiçara ?”
Michel Serres em entrevista a Folha de São Paulo, “[...] nossa relação com o mundo mudou. Antes, ela era local-local, agora é local-global [...]”. Segundo Leibniz, o espaço é a ordem das coexistências possíveis, onde o tempo define seu papel ativo na dinâmica social.
Nas atuais condições de globalização, a metáfora proposta por Pascal parece ter ganho realidade: o universo visto como uma esfera infinita, cujo centro está em toda parte. O mesmo se poderia dizer daquela frase de Tolstoi, tantas vezes repetida, segundo a qual, para ser universal, basta falar de uma aldeia...




quinta-feira, 31 de março de 2011

Ilha dos Valadares: entre o tradicional e o contemporâneo


Chegando a Ilha dos Valadares, a primeira percepção que temos é a da ponte. Logo da ponte, pode-se observar elementos do cotidiano local. Ao longo da travessia se pode ver barcos, crianças brincando na beira do rio, e como elementos quase que indissociáveis a vegetação do mangue que se mistura as casas que beiram o rio. Durante a travessia várias pessoas vão e vêm, algumas a pé e grande parte delas de bicicleta. Quase ao fim da travessia um cartaz anuncia a oferta do supermercado local.


Ao chegar na ilha nos deparamos com uma praça central onde encontram-se várias pessoas sentadas nos bancos, algumas conversando, outras apenas descansando. Andando pela rua de terra avista-se um pequeno estaleiro onde dois meninos brincam junto a um cavalo e um cachorro que comem algo.


Mais à frente na estrada de terra, um cartaz que anuncia fretes, mistura-se à paisagem do mangue. O som que se ouve é do motor de carro misturado ao de um pagode que toca em um bar ao lado de um campo de futebol. O som do motor do carro logo se explica. Tentamos ajudar um grupo de homens que tenta desatolar um carro da lama. Um senhor empurra o carro, outros rodeiam o acontecimento com expressões de atenção. Quase nem somos percebidos. Conseguimos, “a união faz a força” comenta um deles conosco em agradecimento.


Continuamos nossa caminhada pela rua de terra e avistamos uma faixa que indicava protesto. Essa pedia ao prefeito que asfaltasse a rua.

Avistamos ao nosso lado esquerdo na varanda de uma casa um senhor e uma moça tocando cavaquinho. Mais a frente somos surpreendidos por um som que anunciava o carro de picolés, mas que na verdade era uma bicicleta. Percebemos a grande quantidade de bicicletas e motos com caixas de som fazendo anúncios do comércio local. Quanto mais adentramos a ilha mais vemos o verde da vegetação e menos os muros altos das casas. Estes aos poucos são substituídos por cercas madeira e de arames que indicam propriedades. Observamos ao longo do trajeto, elementos aparentemente contrastantes, mas que se misturam tais como o mangue e os barcos que aparentemente contrastam com os carros e as novas construções, mas que na verdade dialogam entre si. Como diz o pesquisador Antonio Carlos Diegues a tradição pode ser entendida como um conjunto de valores, e visões de mundo que é herdada por antepassados. Esta tradição é mutável é um processo pelo qual elementos da cultura chamada moderna são constantemente reinterpretados.

Entre mar e morro, impressões sobre a comunidade de Amparo


por Rogério Silva

A baia de Paranaguá é composta por dezenas de comunidades que abrigam famílias que ao longo do tempo estabelecem relações entre si e o pólo urbano mais próximo que é a cidade de Paranaguá. Dentre essas encontramos a comunidade de Amparo, distante meia hora de barco do centro histórico de Paranaguá e localizada a frente do porto D. Pedro II é uma estreita faixa de terra entre mar e morros. Fato comum as demais comunidades que já tive a oportunidade de visitar,é a tranquilidade, algo que se percebe ao se aproximar do trapiche de concreto que da acesso a entrada da comunidade.

O objetivo desse artigo não é ser meramente descritivo, ou jornalistico mas identificar na comunidade de Amparo assim como nas demais já visitadas e as que futuramente também serão, traço e características do modo de vida da população caiçara que habitam a baia de Paranaguá. Dentre esses traços a busca pelas relações de parentescos, sistema de economia, relações sociais e simbólicas, relações de divertimento e trabalho, assim como ritos e religiosidade.

A relações de parentesco seguem o padrão básico de família nuclear, observação extraída durantes as conversas com moradores com mesmo sobrenome. Essas famílias moram próximas, é como se fossem pequenos bairros, em uma parte da comunidade se concentram a família Rosário, mais ao centro a família Pereira, e também a família Martins, essas as mais numerosas que se pode perceber. As famílias dividem além da convivência as obrigações de trabalho, ao qual o tipo é comum a todos.

A economia da comunidade é baseada basicamente na pesca ao qual praticamente todas as famílias se dedicam a essa atividade. Outras formas de obtenção de recursos aparecem de maneira ainda tímida como por exemplo a exploração do turismo, percebe-se iniciativas como as da associação de moradores que através de uma cozinha comunitária promovem atividades gastronômicas que ocorrem regularmente aos finais de semana.

Na questão das relações sociais entre a comunidade se estabelece uma situação de muita tranquilidade, de acordo com relatos são poucos ou quase sem nenhum transtornos, apenas algumas disputas sem maiores dificuldades de solução. O divertimento na maneira que conhecemos nos espaços urbanos praticamente não existe, apenas em ocasiões especiais se realização festas promovidas pelas denominações religiosas que existem na comunidade ou pelo intermédio de ações externas. Não foi percebido dentre os relatos uma relação entre divertimento e trabalho, parece estar bem definidas as funções do trabalho e divertimento.

Como já mencionado anteriormente, a religiosidade esta fortemente presente entre os moradores. As denominações cristãs, como por exemplos a Igreja Católica e a igreja Batista são exemplos dessas religiões. Aparentemente convivem que forma pacífica, mesmo quando há divisão dentro de uma mesma família. São essas denominações religiosas que são responsáveis pelas poucas promoções de eventos que possam agitar a comunidade variavelmente. Um fato comum as demais comunidades caiçaras do litoral do Paraná, é a interferência das denominações protestantes com relações as tradições culturais, fatos que podem ser observados a seguir.

Em uma conversa breve porém agradável cercada de muita simpatia o Senhor Irineu arrumador aposentado natural da comunidade de Eufrasina e vivendo a 17 anos em Amparo nos descreve o seu tempo de juventude quando participava das festa de fandango e comenta: “ Nóis saia de Eufrasina pra dançar em quase tudo essas comunidades”, o que demostra que a cultura do Fandango de fato unia as comunidades em um mesmo sistema de divertimento e religiosidade, dado aos relatos do Senhor Irineu que também observou quando indagado sobre a Bandeira do Divino, que a mesma era aguardada como muita ansiedade. Outras pessoas como Senhor Hamilton do Rosário de 71 anos e seu irmão o Senhor Gilberto de 61, ambos moradores nativos da comunidade, também relatam sobre a época que o fandango e a bandeira faziam parte da vida cotidiana e ao serem perguntados se os mesmos gostariam do retorno dessas duas manifestações, ambos ficariam satisfeitos assim como demais moradores da comunidade. Todas as pessoas abordadas lamentam não ter mais as manifestações em seu modo de vida, falam com orgulho como em Paranaguá, mais precisamente em Valadares ainda existam grupos de fandango com bons batedores e tocadores de rabéca, viola e adufo, assim como bons versistas e cantadores.

Evidente que no conjunto das memórias as manifestações como o fandango e Bandeira do Divino ainda estão presentes, e isso pode ser o elo que venha a unir o passado e o presente para ações que incentivem a continuidade se não total pelo menos parcial dessa cultura