por Gustavo Salgado
Através do texto do autor E.E. Evans Pritchard, há vários exemplos de “como e quando” se realiza a pesquisa de campo; tendo como educação e bom senso ao abordar e observar o “objeto de estudo”, a Ilha dos Valadares, região onde foi realizada a pesquisa e as fotografias. Através da simples observação podemos constatar que a própria sociedade somente mostra “aquilo que é de seu interesse” ou relevância (podendo contrastar com valores de outras sociedades), determinando a escolha do próprio tema a se estudar. Nesse contexto acredito que posso ter tirado algumas observações precoces em relação ao povo simples da região, tendo um pouco de dificuldade para descobrir o que possivelmente seria relevante para os nativos dos Valadares.
Descobri que só o tempo determina isso, e sendo assim, me senti inserido principalmente quando nos deparamos com um senhor, que estava ensinando uma jovem a tocar cavaquinho. Educadamente pedimos para tirar uma fotografia daquele momento. Um pouco tímido o observador foi indagado pelo observado, se poderia “dar um tempo para ele retocar a maquiagem”. Foi um momento de risadas e descontração, e onde comecei a entender a relação de que, quanto mais se estuda uma sociedade, mais experiência e conhecimento se obtém sobre ela. A descoberta disso, é presenciar como as pessoas são literalmente ligadas a bares, futebol, música, carnaval, e principalmente em melhorar as suas perspectivas de vida.
Conversei e conheci outras pessoas, como o simpático José de Oliveira, vendedor de pilhas, guarda-chuvas, controle remoto, há 30 anos na praça; as queridas Silvia e Otília, vendedoras de artesanato; Ademir Lopes que com maestria toca cavaquinho há 20 anos, que está ensinando há 6 meses Laísa; e ser convidado pelo pessoal da Escola de samba União da Ilha, que conta com 680 componentes, já existe há 12 anos, sendo campeã em 94, com o tema para 2011: “Por Amor a Paranaguá". Fomos recebidos por Janete Pedroso (diretora) e Rosenilda (presidente), 44 anos, que costura desde os 19 anos de idade.
Evans demonstra que a observação participante (literalmente ser/viver como eles), o antropólogo pode se encontrar em dois mundos mentais diferentes, tendo de aceitar a transformação dessa sociedade como algo natural em seu modo de agir e pensar (o que pode ser incompreensível para nós, pode não ser para eles – e vice-versa). Nesse ponto, vejo que todo fato pode agregar um novo conhecimento.
O papel de memorizar o que se vê e o que se ouve, é outro ponto importante para Evans, pois nesse caso, o ato de documentar os fatos, deve ser feito sozinho, analisando os fatos que presenciou. Desde a movimentação na ponte dos Valadares a fatos sociais, como criticas através de faixas de protesto pela falta de pavimentação, vi que muros eram um indicativo de que a segurança é um novo valor de auto preservação naquele local, além de várias pessoas estarem construindo ou terminando de erguer as casas; a ilha está em construção constante.
Fomos observados por estarmos em equipe, o que diferenciou a abordagem, além de invertemos os papeis, sendo os observados em questão (maquina fotográfica em mãos e anotações no caderno podem ter sidos os motivadores).
Algumas dificuldades de contatos com as pessoas podem influenciar a pesquisa de estudar o “outro” conforme Evans, pois as mesmas podem pensar que elas estão inseridas na visão de que são o selvagem, não civilizado, ou observado.
Para quebrar essas dificuldades aparentes, a procura pelo conhecimento do povo é um dos caminhos a se traçar para a possível aceitação ou rejeição. Nisso, a questão de ser inserido é conquistada através da comunicação e do próprio convívio com o povo da região. Notei que essa questão é relativamente interligada ao tempo e a simpatia pelas conversas informais, conquistando assim o que chamamos de empatia e amizade.
Concluo que Evans Pritchard, mostrou o caminho de como iniciar o estudo antropológico através de perspectivas simples; como exemplo: “o que, como e quando”. Sendo assim, a Ilha dos Valadares, nos motivou a uma nova reflexão sobre como olhar o cotidiano, onde as identidades, valores, e crenças – é a história de cada uma dessas pessoas, que constituem a sua etnografia caiçara.