A baia de Paranaguá é composta por dezenas de comunidades que abrigam famílias que ao longo do tempo estabelecem relações entre si e o pólo urbano mais próximo que é a cidade de Paranaguá. Dentre essas encontramos a comunidade de Amparo, distante meia hora de barco do centro histórico de Paranaguá e localizada a frente do porto D. Pedro II é uma estreita faixa de terra entre mar e morros. Fato comum as demais comunidades que já tive a oportunidade de visitar,é a tranquilidade, algo que se percebe ao se aproximar do trapiche de concreto que da acesso a entrada da comunidade.
O objetivo desse artigo não é ser meramente descritivo, ou jornalistico mas identificar na comunidade de Amparo assim como nas demais já visitadas e as que futuramente também serão, traço e características do modo de vida da população caiçara que habitam a baia de Paranaguá. Dentre esses traços a busca pelas relações de parentescos, sistema de economia, relações sociais e simbólicas, relações de divertimento e trabalho, assim como ritos e religiosidade.
A relações de parentesco seguem o padrão básico de família nuclear, observação extraída durantes as conversas com moradores com mesmo sobrenome. Essas famílias moram próximas, é como se fossem pequenos bairros, em uma parte da comunidade se concentram a família Rosário, mais ao centro a família Pereira, e também a família Martins, essas as mais numerosas que se pode perceber. As famílias dividem além da convivência as obrigações de trabalho, ao qual o tipo é comum a todos.
A economia da comunidade é baseada basicamente na pesca ao qual praticamente todas as famílias se dedicam a essa atividade. Outras formas de obtenção de recursos aparecem de maneira ainda tímida como por exemplo a exploração do turismo, percebe-se iniciativas como as da associação de moradores que através de uma cozinha comunitária promovem atividades gastronômicas que ocorrem regularmente aos finais de semana.
Na questão das relações sociais entre a comunidade se estabelece uma situação de muita tranquilidade, de acordo com relatos são poucos ou quase sem nenhum transtornos, apenas algumas disputas sem maiores dificuldades de solução. O divertimento na maneira que conhecemos nos espaços urbanos praticamente não existe, apenas em ocasiões especiais se realização festas promovidas pelas denominações religiosas que existem na comunidade ou pelo intermédio de ações externas. Não foi percebido dentre os relatos uma relação entre divertimento e trabalho, parece estar bem definidas as funções do trabalho e divertimento.
Como já mencionado anteriormente, a religiosidade esta fortemente presente entre os moradores. As denominações cristãs, como por exemplos a Igreja Católica e a igreja Batista são exemplos dessas religiões. Aparentemente convivem que forma pacífica, mesmo quando há divisão dentro de uma mesma família. São essas denominações religiosas que são responsáveis pelas poucas promoções de eventos que possam agitar a comunidade variavelmente. Um fato comum as demais comunidades caiçaras do litoral do Paraná, é a interferência das denominações protestantes com relações as tradições culturais, fatos que podem ser observados a seguir.
Em uma conversa breve porém agradável cercada de muita simpatia o Senhor Irineu arrumador aposentado natural da comunidade de Eufrasina e vivendo a 17 anos em Amparo nos descreve o seu tempo de juventude quando participava das festa de fandango e comenta: “ Nóis saia de Eufrasina pra dançar em quase tudo essas comunidades”, o que demostra que a cultura do Fandango de fato unia as comunidades em um mesmo sistema de divertimento e religiosidade, dado aos relatos do Senhor Irineu que também observou quando indagado sobre a Bandeira do Divino, que a mesma era aguardada como muita ansiedade. Outras pessoas como Senhor Hamilton do Rosário de 71 anos e seu irmão o Senhor Gilberto de 61, ambos moradores nativos da comunidade, também relatam sobre a época que o fandango e a bandeira faziam parte da vida cotidiana e ao serem perguntados se os mesmos gostariam do retorno dessas duas manifestações, ambos ficariam satisfeitos assim como demais moradores da comunidade. Todas as pessoas abordadas lamentam não ter mais as manifestações em seu modo de vida, falam com orgulho como em Paranaguá, mais precisamente em Valadares ainda existam grupos de fandango com bons batedores e tocadores de rabéca, viola e adufo, assim como bons versistas e cantadores.
Evidente que no conjunto das memórias as manifestações como o fandango e Bandeira do Divino ainda estão presentes, e isso pode ser o elo que venha a unir o passado e o presente para ações que incentivem a continuidade se não total pelo menos parcial dessa cultura
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