terça-feira, 5 de abril de 2011

A influência da indústria cultural nas crianças de Amparo


por Juliane Neves


Das comunidades pesqueiras da baía de Paranaguá a comunidade de Amparo está situada de frente ao Porto, das imediações do bairro do Rocio é possível avistar o local, mas estando em Amparo o ponto de vista é bem diferente e apesar se ser um local muito próximo ao continente é pouco conhecido pelos parnanguaras. Para quem mora ali creio ser comum a vista diária de navios, rebocadores e guindastes, tornando evidente o contraste entre o cotidiano da pesca artesanal com os frutos da revolução industrial.



Esse contraste entre o tradicional e o moderno reflete também nas relações sociais e no próprio comportamento das pessoas, ressaltando aqui a questão da infância no ambiente rural e urbano. Nas cidades as crianças desde a mais tenra idade são condicionadas a desejarem brinquedos, roupas e calçados que estampem o que atualmente é mostrado na mídia e algumas crianças acabam extrapolando o limite da necessidade e o conceito do que realmente é necessário e o que é desejo de consumo, tamanha a influência da mídia. Nas últimas décadas a infância na cidade mudou drasticamente, pois o mundo mudou, os sistemas economicos mudaram e com o neoliberalismo e a busca incessante pelo lucro, todos os extratos sociais independente de faixa- etária foram alterados, seja para o bem ou para o mal dependendo do ponto de vista de cada um. São raras as crianças da cidade que conhecem brincadeiras como pular corda, amarelinha, esconde-esconde, jogar bolinha de gude e soltar pipa, sendo muito comum crescerem em frente a televisão, o computador e o vídeo-game. Nas comunidades pesqueiras a infância não é tão influenciada pelas tecnologias como na cidade, sendo ainda possível notar a presença de uma infância mais leve, mais natural, onde as brincadeiras surgem da criatividade em meio as paisagens do seu cotidiano.


Ao mesmo tempo em que essas crianças preservam em si o encanto da verdadeira infância sendo determinada pelo meio no qual vivem, em campo ficou claro que elas são influenciadas pela indústria cultural no sentido da cultura massificada.




Ao conviver mesmo que por pouco tempo com as crianças de Amparo, muitas delas revelaram espontaneamente a forte influência da indústria cultural, seja nos comentários sobre a novela, seja nas músicas que cantavam – que iam desde o “sucesso” nacional Rebolation à músicas norte americanas, das quais mostraram um maior apreço. Aqui podemos notar a invasão cultural norte americana e consequentemente a desvalorização da sua própria cultura e crendo na superioridade do invasor cultural, como cita Paulo Freire em sua obra Pedagogia do Oprimido: “A base do processo de invasão cultural é a crença por parte dos invadidos de sua inferioridade intrínseca, ao mesmo tempo em que acreditam na superioridade do invasor, nascendo então o desejo de se parecerem com ele, andando, vestindo-se e, falando à sua maneira.”

Tirando a cultura da pesca que está relacionada com o sustento e a economia local, hoje é muito raro ver os pais e/ou avós transmitindo os saberes relacionados a manifestações culturais para as crianças, como o Fandango por exemplo. Sendo que o Fandango sempre esteve associado a identidade cultural dessas comunidades.

Atualmente pontos de cultura como o Mandicuera se engajou na causa de manter a cultura local, tendo como público-alvo crianças e adolescentes que infelizmente são os mais influenciados pela indústria cultural, mas que, uma vez conhecendo a sua identidade cultural serão os transmissores da cultura local.



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